Ontem (03/10) assisti ao show do gênio Tom Zé no renovado Araújo Vianna. Em determinado momento um grupo de pessoas fez uma manifestação com cartazes chamando para o evento, marcado para hoje (04/10), que visa criticar ações do atual prefeito de Porto Alegre. Durante essa manifestação se escutou o grito em coro de “fora Coca-Cola”. No decorrer do show, estes mesmos que protestavam contra a marca de refrigerantes, deram provas de que este pedido é no mínimo equivocado. Eu vou aqui defender a ideia de que seria melhor para todos se a Coca-Cola estivesse no comando administrativo da cidade de Porto Alegre.
Entre uma música e outra o show de Tom Zé foi interrompido por um grupo de manifestantes com cartazes contendo pedidos diferenciados. Um papel foi entregue a Tom Zé e lido por ele, chamando as pessoas para o evento de hoje na praça Monteviéu, no centro de Porto Alegre. Concordo com alguns dos pedidos expostos nos cartazes, mas não vou me ater a isso, gostaria apenas de comentar o coro de “Fora Coca-Cola” que se escutou no momento desta manifestação.
Como ex-morador do bairro Bom Fim, posso dizer que frequentei muito o Araújo Vianna. Assisti a diversos shows de ótima qualidade no local. Mas de uns 10 anos para cá eu também assisti o total e completo abandono do local nas mãos do poder público. Era revoltante ver o estado de degradação que este importante palco de eventos chegou. Mas de um ano para cá, a iniciativa privada do companhia Oi iniciou as obras de restauração do local, que foram concluídas recentemente. Ontem eu estive pela primeira vez em muitos anos dentro do Araújo Vianna e fiquei encantado com o local. Todo novo, bem pintando, com estrutura de iluminação, som, cadeiras com acento em madeira, bem mais confortáveis que as velhas cadeiras de metal. Banheiros limpos com piso de granito e cubas para lavar as mãos, veja só, cubas, não aquelas pias de porcelana com torneiras de plástico, mas cubas com torneiras automáticas em metal. Percebi também uma propaganda da Coca-Cola no compartimento de papel para secar as mãos e um espelho no formato da garrafa.
Mas todas estas mudanças positivas do Araújo vieram de algum burocrata governamental? Não, durante a administração pública o casa definhou. E eu lembro aqui não foi o último mandato que deixou o Araújo chegar ao ponto que chegou, ele passou por diversas administrações que não moveram um ovo para reformar o local. Inclusive administrações de esquerda que prezam (nem que seja só no discurso) tanto pelo que é público. Mas foi somente a iniciativa privada da Oi e da Coca-Cola que tiraram o Araújo do buraco em que se encontrava.
Eu disse no início que os mesmos que protestavam deram provas de que estavam equivocados. Pois bem, algumas músicas depois do protesto um outro papel foi entregue para Tom Zé pelo mesmo grupo, e ele leu alto e claro para todos presentes: “o elevador da Casa do Estudante está estragado a mais de um ano”. Vejamos, quem administra a Casa do Estudante? A UFRGS, ou seja, a administração pública. Aí está a prova mais do que concreta, assim como a maioria das instituições públicas, a Casa do Estudante é mal administrada e sofre com abandonos desta magnitude. Me pergunto se o elevador da fábrica da Coca-Cola fica estragado mais de um dia? E se fosse a “Casa Coca-Cola do Estudante” será que isso aconteceria? Eu duvido.
Levanto a questão: o que seria melhor para a minha cidade? Um Araújo público jogado às traças ou um Araújo patrocinado pela Coca-Cola brilhando de tão bonito? Uma praça pública mal cuidada ou uma praça patrocinada com Wi-Fi grátis e chafariz novo? Uma ciclovia pública de uma quadra só ou uma ciclovia que abrangesse a cidade toda mas tivesse propagandas em seu percurso? Em todas estas questões eu fico sempre com a segunda opção. E o melhor de tudo sabe o que é? Eu posso assistir a um show no Araújo Vianna da Coca-Cola, posso utilizar o Wi-Fi grátis da Coca-Cola, me refrescar no chafariz da Coca-Cola, andar de bicicleta na ciclovia da Coca-Cola e depois de tudo isso chegar na venda da esquina e comprar uma Pepsi bem gelada. Afinal nós vivemos em uma economia de livre circulação de mercadorias e ninguém me obriga a consumir produto nenhum. Eu posso usufruir de tudo que a Coca-Cola trouxe de bom para a cidade sem precisar consumir um produto sequer da marca. Então que diferença faz para mim se no banheiro do Araújo tivesse uma propaganda da Prefeitura de Porto Alegre ou uma propaganda da Coca-Cola? Absolutamente nenhuma, eu apenas quero um Araújo bonito e bem cuidado como o que eu vi ontem à noite.
Já está na hora de acabar com esse ranço de que tudo que é público é divino e tudo que é privado é maligno. A Coca-Cola me deu um Araújo Vianna novo em folha e não me cobrou um centavo por isso, se eu já comprei ou virei a comprar algum produto da marca foi porque eu quis. Já o Governo me rouba 40% de toda riqueza que produzo e me devolve quase nada em troca. A marca Coca-Cola é um exemplo administrativo. São lideres em seu segmento em diversos países, das mais diversas culturas. Imaginem a complexidade para administrar com qualidade esta enorme estrutura. Nossos burocratas aqui não conseguem manter inteiro um teatro como o Araújo, ou um elevador como o da Casa do Estudante. Qual será o melhor exemplo de administração? Coca-Cola, por favor, compre Porto Alegre.
Fábio Born. 04/10/2012.